26 setembro 2023 – Expanded Translation

Breve introdução à literatura romanche

Rico Franc Valär é professor de literatura e cultura romanche na Universidade de Zurique. Pesquisa a língua e o patrimônio cultural romanche, assim como a história e a atualidade de sua literatura. Além disso, estuda os movimentos reivindicatórios das línguas romances minoritárias na Europa. Foi o responsável pelo workshop online de introdução ao romanche no âmbito do projeto Fervur rumantscha!

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Por Rico Franc Valär

Tradução de João Vicente

Com cerca de 60.000 falantes na atualidade, o romanche é a quarta língua nacional suíça junto com o alemão, o francês e o italiano. A maioria de seus falantes vive no cantão dos Grisões. Nas regiões de fala romanche, as aulas escolares acontecem nessa língua e o idioma faz parte dos planos de estudo do ensino secundário. Além disso, em duas universidades suíças ele pode ser estudado como disciplina, existem programas de rádio e televisão em romanche, jornais e páginas da web oficiais e privadas publicadas em romanche. A música, o teatro e a literatura romanche alimentam uma vibrante cena cultural.

Antes do século XVI o romanche era sobretudo uma língua falada e uma cultura expressa em forma de canções, provérbios, poemas, lendas e mitos. Isso mudou com o Humanismo e a Reforma Protestante, que deram lugar a uma forma escrita da língua que começou a ser utilizada para traduções da Bíblia, para catecismo ou salmos e que serviu de veículo para polêmicas sectárias. Desde este início foram se desenvolvendo diversas variedades regionais escritas até chegar às cinco atuais variedades, todas elas com suas próprias gramáticas, vocabulários e literatura. O que significa dizer que o que conhecemos hoje como romanche é, a rigor, o conjunto dessas variedades linguísticas reto-românicas que são faladas e escritas na Suíça.

Ainda que o romanche escrito fosse utilizado principalmente para fins religiosos, também era usado para redigir estatutos, textos jurídicos, discursos políticos, canções patrióticas, crônicas rimadas, relatos de viagem e peças dramáticas. Foi apenas depois do século XIX que a literatura romanche começou a abandonar os campos da religião e da política. A pressão política e cultural que os grupos minoritários europeus sofreram durante o auge do nacionalismo estimulou um movimento dedicado a defender e revitalizar a identidade romanche. Isso deu lugar à primeira idade de ouro da literatura romanche no século XIX. A literatura desse período consiste em grande parte de poesia e contos que louvavam o idioma, as montanhas, a pátria e a liberdade e força da comunidade romanche. O objetivo principal era fortalecer o orgulho e a identidade do povo romanche, assim como o prestígio de sua língua. Entre os poemas mais característicos da época temos "Il pur suveran" [O lavrador soberano] de Gion Antoni Huonder, "Al pievel romontsch" [Ao povo romanche] de Giachen Caspar Muoth y "Tamangur" [O bosque Tamangur] de Peider Lansel.

Literatura rumantscha

Nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, a literatura romanche gozou de um segundo apogeu. Apesar do maior reconhecimento jurídico e cultural, o risco crescente de extinção desta língua impulsionou uma nova geração a escrever em romanche, inspirada em parte pelos movimentos literários modernos na Europa. A literatura dessa geração reflete o desejo de romper as fronteiras culturais e literárias e de promover a importância do idioma entre os falantes nativos. Os autores romanches começaram a escrever como cronistas de seu tempo: seus contos e romances retratam o redemoinho de mudanças que o mundo moderno trouxe às remotas comunidades da montanha. Foi também durante esse tempo que os poetas buscaram novas formas e modos de expressão e abraçaram tendências modernas como o surrealismo, o simbolismo, o expressionismo, a subjetividade, a intertextualidade e a metapoesia.

Traduções parciais das obras mais importante do século XVI até os anos 1970 estão disponíveis em espanhol graças à antologia “Un siglo de poesía retorromana” [Um século de poesia reto-romana], organizada por Ángel Crespo [Editorial El Toro de Barro, 1976). A obra romanche mais conhecida em todo o mundo, no entanto, é um livro infantil “Schellen-Ursli” [Um sino para o pequeno Urs] de Selina Chönz, com ilustrações do artista romanche Alois Carigiet. Foi publicado pela primeira vez em 1945 e tornou-se um best seller internacional. Foi traduzido em treze idiomas, entre eles o alemão, o francês, o inglês, o neerlandês, o japonês e o africâner, mas não ainda em espanhol ou português.

Desde os anos 1980, a literatura romanche vem abordando novos temas e questões, como ecologia, liberdade individual, gênero e sexualidade; evita visões idílicas e põe em questão alguns aspectos da sociedade e das realidades alpinas. Também mostra grande interesse pela experimentação linguística, a hibridação da linguagem e a performance da palavra falada. A poesia segue sendo um campo muito produtivo na literatura romanche contemporânea. Com o objetivo de chegar a um público mais amplo, uma nova tendência na edição são publicações bilingues ou plurilíngues (que combinam principalmente o romanche e o alemão) e as traduções para outros idiomas (alemão, francês, italiano e em alguns casos, inglês).

Entre as autoras e autores romanches vivos de renome que foram traduzidos e são figuras públicas podemos contar Leta Semadeni, Leo Tuor, Tresa Rüthers-Seeli, Arno Camenisch, Dumenic Andry, Rut Plouda, Flurina Badel e Jessica Zuan, para nomear apenas alguns. Novas traduções para o espanhol de textos alemães escritos por autoras e autores romanches incluem "Tamangur" de Leta Semadeni (La Cifra Editorial, Cidade do México, 2018, tradução de Claudia Cabrera) e a trilogia composta por “Sez Ner”, “Detrás de la estación” e “Última ronda” de Arno Camenisch (Editorial Xordica, Zaragoza, 2014, tradução de Rosa Pilar Blanco). Alguns poemas romanches estão acessíveis em tradução espanhola de Jessica Zuan na antologia “El tiempo em que vivimos. Poesía suiza actual” (Editorial Rey Naranjo, Colombia, 2021).

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Oficina online de introdução à língua, cultura e literatura romanche contemporânea

Materiales para principiantes / iniciantes