16 April 2018 – Interview

“Reconhecer a obra como aberta a inúmeras reescrituras.”

Inés Garland, Martín Caamaño, Mónica Herrero y Guilherme Gontijo Flores – Becarios Looren América Latina 2018
Inés Garland, Martín Caamaño, Mónica Herrero y Guilherme Gontijo Flores – Becarios Looren América Latina 2018

Sete perguntas para Guilherme Gontijo Flores, tradutor de Brasil

Foto: Inés Garland, Martín Caamaño, Mónica Herrero y Guilherme Gontijo Flores – bolsistas Looren América Latina 2018

O que você está traduzindo neste momento?
Eu estou traduzindo a obra completa de François Rabelais, basicamente os cinco romances, as obras astrológicas, poemas esparsos e outros textos menores.

Que livro você traduzia novamente? 
No fim das contas, não fosse o corte demandado pelo tempo, o desejo de buscar o novo, eu traduziria de novo tudo que já traduzi. Sempre que leio um pouco das minhas traduções, imagino soluções diferentes, que poderiam mudar a antiga versão. Não se trata, veja bem, de descartar o que foi feito, mas de reconhecer a obra como aberta a inúmeras reescrituras.

O que você considera muito difícil de traduzir? 
A coisa mais difícil de traduzir varia de trabalho para trabalho. Mas se tivesse de designar uma que sempre apresenta um desafio, eu diria que é a intimidade possível, achar o tom que tente recriar paralelamente algumas potências afetivas de um texto; o ponto em que o texto é capaz de desarmar o leitor porque o toma pela intimidade do dito.

Como ou por que você se tornou um tradutor? 
Cada um se torna tradutor por muitos motivos ao mesmo tempo, creio; no entanto, quando revejo o meu percurso, sinto que o grande motor que me levou à tradução foi o desejo de reescrever os poemas que eu amava; posso dizer que era e é um ímpeto de fazer parte de uma tradição viva, que por um lado comunica (porque torna acessível em algum nível) e por outro desdobra (porque reescreve, recoloca na história, na diversidade de outro mundo) o texto original.

Como e quanto é o pago da tradução literária em seu país? 
Em geral, recebemos por lauda, que varia em torno de 2 mil caracteres com espaços; eu diria que atualmente o valor da lauda gira em torno de 30 reais, um valor que no Brasil pode variar muito, a depender da editora, do tradutor, da obra, do prazo, etc. Infelizmente, isso se dá porque os tradutores ainda não têm força para de fato determinar suas relações com o mercado.

O que o surpreendeu sobre a Casa de Tradutores Looren? 
O que me surpreendeu, logo na chegada, foi a beleza natural, a vista de Looren. Mas pouco depois fiquei muito empolgado com a acolhida das pessoas e com seu profissionalismo no trato do dia a dia. Além disso, tive um convívio maravilhoso com os outros tradutores da casa; o projeto de bolsa para tradutores latino-americanos nos permitiu trocar muitas ideias, realizar contatos de amizade e de conhecimento.

Qual é a palavra mais bonita em português? 
Essa é uma pergunta difícil demais. Sei que amo a palavra “alegria”, pelo som e o sentido, porque é a intensidade eufórica do momento, e não a duração infinita da “felicidade”; felizmente, ela costuma ser facilmente traduzida em várias línguas. Outra, mais inusitada, que me cativa é “ígneo”, o adjetivo relativo ao fogo; talvez eu goste muito dela pelo seu som estranho à língua, embora seja uma palavra vinda do latim.

Guilherme Gontijo Flores é poeta, tradutor e professor de Língua e Literatura Latina na Universidade Federal do Paraná. Autor dos livros de poemas brasa enganosa (2013), Tróiades (2014-2015), l’azur Blasé (2016) e carvão : : capim (2017). Coeditor do blog escamandro : poesia tradução crítica (www.escamandro.wordpress.com) e membro fundador do grupo Pecora Loca de tradução e performance.

País de origem: Brasil 
Idiomas de que traduz: Latim, Grego Antigo, Inglês, Francês, Alemão, Espanhol. 
Idiomas a que traduz: Português 
Traduções: As janelas, seguidas de poemas em prosa franceses, de Rainer Maria Rilke (2009, em parceria com Bruno D’Abruzzo), A anatomia da melancolia, de Robert Burton (4 vols., 2011-2013), Elegias de Sexto Propércio (2014), Safo: fragmentos completos (2017).

Gontijo Flores, tradutor de Brasil

Fotos: Janine Messerli, Übersetzerhaus Looren

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